quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Sem querer se encontraram

(Também sem presença na playlist, porém, indico "Better Together" de Jack Johnson)


Me conte: Você já olhou para a lua e avistou a figura de um coelho? Reza a lenda que se sua resposta for "sim", você certamente está ou esteve apaixonado. E essa poderia ser mais uma história sobre como Afrodite agiu em mais um casal digno de roteiro cinematográfico, ou como o cupido flechou um casal feito para ficar junto. Mas não, é só sobre um suposto coelho, sobre amigas que compartilham o pote de ouro, e sobre como um casal pode incentivar tantas pessoas.
Ela, típica loura que rouba a atenção, dona de um sorriso espontâneo alucinante e de uma energia que contagiava quem quer que a visse. Ele, ladrão de olhares de quem quer que fosse, dono de um histórico de longo relacionamento e de uma alegria de invejar. E entre eles, a lua, idas, vindas, amigas que defendem ou não um suposto futuro relacionamento, bebidas, festas, amigos em comum e uma rua.
Mas em meio a tantos poréns e tantas vírgulas, houve um "e se", e uma festa acabou fazendo dos dois os melhores companheiros, melhores amigos e melhores amantes que se pode encontrar. Compartilham beijos, tapas, abraços calorosos, abraços frios, olhares apaixonados, olhares que se perdem no instante em que se encontram. Os que observam a felicidade iminente de ambos desejam o mesmo, são feitos de histórias e amores, um amor inexplicável, um amor só deles.
E apesar de não acreditarem na loucura de darem certo, houve um tal de acaso, ou de destino interferindo. E ela, bailarina acabou roubando o coração dele, espectador. Eles que juntos formam o que todos buscam, sem roteiros, sem melodramas, sem incompreensões, são um amor do simples, do puro. Um amor sem poesia, com muita emoção e muita paixão. Um amor sem exceções, o amor medido de maneira errada, que transborda a cada encontro, o amor que todos deveriam ter.


E para quem não se viu achando o coelho da lua, tudo bem. Talvez você precise de um empurrãozinho de seu vizinho chato. Porque as melhores histórias começam com "Sem querer", e sem querer ele roubou um beijo em uma festa, agora, sem querer, ele é o excesso de um alguém que se via sendo pouco. 

Me curta enquanto estou aqui

A modernidade, a velocidade da informação, esses tais "Tempos Modernos" não são para mim, definitivamente. Sou arcaica para com as relações, adoro um abraço caloroso, uma piscadela distante e até mesmo um aperto de mãos mais refinado. Gosto de troca de olhares, troca de perfumes que se misturam com a aproximação durante conversas pessoais e a troca de toques que ocorre durante um flerte. Gosto de atenção notória, daquelas em que temos noção de que estão nos admirando, de que estão de fato curtindo nossa presença. Curtindo, o verbo mais pejorativo e mal utilizado ultimamente, pois casais devia estar curtindo o amor no reservado, no sussurro de algo interno ou num encontro de beijos, ao invés de curtirem seu amor imoral de rodas (e redes) sociais.
O tempo é dono de tudo isso, e deve ser aproveitado ao máximo, desde os milésimos aos segundos, o amor deveria ser entregue por segundos e por espaços que com o tempo se dissipariam. E o problema tem estado exatamente nesse ponto, o tempo foi esquecido, e as pessoas aproveitam-no por horas e dias, como casais que se vêm e preferem se manter presos em suas rodas sociais à divagar pelos segundos ao lado um do outro. Porque curtir um alguém, hoje em dia, é amplificar a boa imagem por meio de um clique, é contado pelo tanto de amigos que vêm sua suposta felicidade ao lado de quem ama. E deveríamos contá-lo pelo tanto de vezes em que tiramos o ar de alguém num beijo, ou pelo tanto de vezes que você se pega enroscado no cheiro da nostalgia, no enlace da saudade do toque.
Portanto solte seu celular, esqueça que você precisa curtir alguém de maneira figurativa e se deixe ser curtido, deixe seu corpo ter um fã, deixe seus sorrisos terem um motivo real, já que até mesmo o abstrato precisa ser sentido. E peço, aliás, imploro: Me curta enquanto estou aqui. Sou arcaica e presa às relações reais, apesar de sempre gostar mais de contos de fadas, tais quais até mesmo seus personagens curtem uns aos outros pessoalmente. 

Ela me olhou e não resisti.

Hoje tirei meu tempo para observá-la, não quis pensar em nada a não ser nela, em desvendar todos os mistérios daquele olhar calmo, descobrir o motivo por trás de tanta alegria, precisava entender o que me cativou nela.
E observei cada detalhe, até mesmo quando ela reclamou do meu silêncio enquanto a encarava. E pensava comigo "Ela rirá alto de tal piada, irá brincar com a embalagem da garrafa, agora procurará por meu olhar e quando achá-lo, vai sorrir abertamente", sim, eu estava acostumado com suas reações, e percebi estar encantado pelas mesmas. Adorava quando abria bem os olhos para prestar atenção em algo, e como quando se incomodava com algum comentário sempre voltando o olhar para o chão. Bebia sempre a mesma vodka, e toda vez que se deparava com um alguém novo, oferecia em busca de algo em comum para que a intimidade se tornasse mais fácil. E reclamava, muito! Odiava quando a abandonava com pessoas rasas, não gostava de permanecer em um assunto por uma tarde toda e fazia o possível para escapar do ultrajante. E no meio de todas, era a das roupas largas, da cerveja direto da garrafa e da postura mais relaxada, porque não fingia ser extremamente comportada, era transparente. Os cabelos bagunçavam com facilidade, até mesmo quando tomava um tempo maior para arrumá-los, e não se importava em mantê-los alinhados ou corretos o suficiente para fugir dos olhares indelicados, eles eram assim e ela deixava. Cantava empolgada as raras músicas que conhecia por inteiro, fazia "air guitar" e se divertia torcendo para que o volume fosse aumentado por alguém. Quando sozinha, observava cada pessoa, sorrindo à distância para os acontecimentos aleatórios e vez ou outra, a flagrava olhando o que ela chamava de "meus cantos invisíveis do corpo", gostava de cicatrizes e nunca soube o porquê, mas em todo abraço, se aproveitava delas com toques suaves e discretos.
E em meio a tantos detalhes que adorava nela, esqueci do mais importante, daquela olhar distante que me pegava desprevenido. Afinal, eu poderia citar mil e um motivos e mil e uma manias, mas precisava apenas de uma para entender o porque havia me apaixonado tanto pela moça mais moleca que já havia visto, aquele olhar que me mirou e me acertou em cheio quando nos vimos pela primeira vez. Simplesmente o fato de ser ela bastava para um desentendido, que já havia entendido muito sobre meninas e que se via tentando entender aquela mulher.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

"Me fez muito bem te ouvir"

(Essa não se vê presente na playlist, mas caso seja possível, favor ouvir "Vamos fugir" do Skank.)



Sempre acreditei nessa coisa de "Fazer o bem, faz bem", apesar de nunca ter tido uma experiência concreta do mesmo. 

Até que consegui, cuidei dele. Como devia ter feito desde que nos conhecemos, como devia ter feito desde que o vi se perder em amores inúteis, em mares turvos demais para um coração muito lago, muito calmo. Já o vi mergulhar de tantas maneiras em ferraduras de cavalo, já o vi procurando trevos com exatas quatro folhas, já o vi buscando um alguém que fosse digno de um coração tão grande, tão maravilhoso. E dessa vez, cuidei para que seu mergulho fosse daqueles revigorantes, o permiti lavar a alma, já que ele sempre me segurou, já que possuo um dom inestimável para tropeços. Cuidei para que a sorte viesse juntamente do acaso.
Ele se via feliz, estava com aquela que o fez sorrir demais, enquanto nos via de abraço em abraço. Eu, perdida em quaisquer overdoses. Ele, perdido em mil amores. E pela primeira vez, estagnei, me vejo feliz, completa. E precisava vê-lo do mesmo jeito, já que é meu confessionário pessoal, aquele alguém das madrugadas, aquele meu grito no vácuo que era seu abraço. Onde confundíamos nossas alturas e nossos perfumes.
E justamente nessa madrugada, ele se emancipou. Aprendemos juntos que certos amores são feitos para ensinar, outros, para estagnar os que se viam perdidos. Pois há três anos caminhamos lado a lado, vivemos por fases e passagens, e pela primeira vez, vivemos de fato.
Deveria ser meu pequeno, mas é meu grandão. E tem me ouvido há certo tempo, e agora que vivemos, ele diz com convicção: "Me fez muito bem te ouvir".

Essa é aceitação de canto a canto.

A culpa é uma invenção alucinógena de alguém que buscava matar as pessoas de remorso, ou algo do gênero.
Ela é tatuada, fuma (e muito), usa certas substâncias -não tão corrosivas, todas confortantes para seu coração machucado, estraçalhado-, faz do álcool um de seus melhores amigos, foge sempre que possível, se isola em seu mundo musical quando convém e é feita de receio quanto às pessoas. Mas a culpa não a consome, porque as pessoas precisam aprender a aceitar suas decisões, e se tem algo que ela ama, são seus maus hábitos, suas curvas exageradas, a cicatriz extremamente irregular em seu braço. Porque ela é feita de aceitação, já que diz ser colocada no mundo para amar a si antes de qualquer um. Em suas tatuagens, impõe histórias e relatos de quem vive e aprende. Em seus piercings, se lembra da mutilação que a alma já teve pela metáforas mais que alegóricas dos instantes de insanidade (ou sanidade). Cada cigarro que traga com voracidade é desespero de vício metamorfoseado, é amor corrompido, quase ódio, quase medo. Sua conduta não tão aceita é desaforo de drinks, é alusão de álcool. E a culpa, aquela feita para fazer os de bem vacilarem, não anda com ela. Já que ela é aceitação, de canto a canto.

Me perdi nas linhas desse texto

Moça, se permita abandonar seus guias, suas bússolas e seu bom senso.
Em certo momento de nossas vidas, acabamos descobrindo que para encontrar nossos rumos, é preciso nos emanciparmos do mesmo. Tal ironia definida pelo fato de jamais o tentarmos para descobrirmos a realidade por trás da mesma.
Esse momento da vida chegará quando você simplesmente não tiver noção alguma do que o futuro reservará. Onde estará, ao lado de quem estará e o porquê ali estará. Eis que se encontrará, porque uma das melhores coisas dessa vida são encontradas, e se um dia as encontramos é porque em algum momento foram perdidas. Como a meia que perdemos nos lençóis durante as noites frias, como o juízo que perdemos com um alguém, como o pudor que perdemos vez ou outra, ou a coragem que encontramos para certos lapsos, assim como a felicidade que encontramos pelos perdidos que a vida nos dá. Portanto, permita-se se perder, e finalmente, encontrará algo. Nem que seja o motivo pelo qual se perdeu.