quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Hoje tudo está organizado, demais











(Indico, para este, a faixa número 21 - Drops of Jupiter)


Já que toda história fascinante sobre um casal específico é composta por um mau elemento, e uma vítima de charme excessivo e adrenalina em grande quantidade, devo dizer, fui a vítima. E ela foi o pior elemento que eu poderia ter encontrado, é como entrar em uma base aérea e chocar com o único poste do local, e ela foi o maldito único poste que me fez colidir com sensações jamais sentidas. 

A princípio, ela passa a impressão de boa moça, de família, bem instruída sobre os estereótipos masculinos e de poucas histórias de fogueira. Mas quem diria que aquela boa moça causaria tanto estrago? Do grupo de amigas, era aquela que fica sempre ao meio da foto, sem a parte de empinar todas suas boas saliências, era aquela que esperava acontecer e não corria atrás de todos os homens dos bares e das festas, era a que bebia sem mostrar a todos a alta quantidade que podia consumir, era a mais deslocada e a que fazia toda a diferença. 
A conheci como todo início de história, sem querer, com um esbarrão ou outro. E com o tempo se tornou muito mais importante do que devia, ela fez com que minhas festas perdessem a graça (Afinal, por que dançar com alguém senão ela?),  fez também com que os jogos de futebol ficassem entediantes (Toda vez a procurava na torcida gritando balançando sua cerveja de um lado para o outro), fez com que todas as outras perdessem a graça. Comecei a procurar em tudo algo dela, de todos os abraços, queria aquele par de braços magrelos enrolados em meu pescoço; de todos os sorrisos, esperava aquele contornado de batom forte; de todos os beijos, queria aquele que me trazia um sorriso espontâneo. Ela era bagunça dos pés à cabeça, me desestabilizava, bagunçava minha cabeça e acabou bagunçando meu coração. Tentei aceitar certos sentimentos, apesar de saber que não era boa moça. Era louca, louquinha, ouvia jazz como uma senhora que se acaba em vinhos caros, ouvia rock como um bêbado de cabelos compridos que se acaba em rodas punk, dançava com sutileza e graça como uma bailarina, me batia como um lutador profissional quando a irritava, me deixava olhar para todas as mulheres que quisesse e jamais sentia um pingo de ciúme ou inveja, ria de suas piadas ruins como se ninguém as tivesse ouvido e falava besteiras para meus amigos por se sentir em casa. E me deixava louco, louquinho.
As vezes me tirava a paciência, como quando entrava em meu carro e depositava seus pés no painel, enquanto cantava alto os MPBs que colocava em meu rádio por vontade própria. Ou quando brincava com seus amigos sobre se casar com fulano ou siclano, já que no fundo eu tinha aquele ciúme saudável-nada-saudável. E quando levava as mãos ao meu rosto e o apertava simplesmente para me ver irritado, como toda vez que bagunçava meus cabelos. Ela era um lapso, uma loucura, e de todas que já tive, não se comparava, sumia com os sentimentos antigos, me fazia querer tê-la conhecido antes de as confusões amorosas que já tive, e me fez querer desistir da vida agitada, me fez querer tê-la por perto todas as noites e todas as manhãs, para me drogar com meu perfume que se tornava doce apenas quando alcançava seu corpo. Mas o medo me segurou, e escolhi não assumir que ela mexia comigo, e a deixei ir, porque no fundo algumas coisas se tornam recíprocas.
Hoje me arrependo de ter sido corrompido por pensamentos mundanos e inegáveis, porque todos os dias descanso o olhar em direção ao painel do meu carro, perdido em pensamentos sobre ela, acompanhados de seus pés que nunca paravam e daquele olhar maroto voltado para o rádio enquanto aguardava a próxima canção. E quem me dera ser sua próxima canção, porque as melhores são as que ouvimos em excesso quando a descobrimos, e após um tempo, voltamos a nos viciar na mesma.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"Dominguices"

Com o tempo e o acúmulo de responsabilidades, acabamos perdendo o contato com nossos dias mais suaves e com nossas habitualidades para com os mesmos, e em certo momento, somos pegos pela saudade.
Comigo não é diferente, sinto falta dos domingos. Dos chuvosos, cinzas, ensolarados, agitados, apaixonantes, absurdos, entendiantes, e sempre, autores. Porque domingos são autores de meus melhores e mais bem-sucedidos pensamentos, de meus melhores lapsos e de minhas mais espontâneas sensações. Domingo é dia de poesia calma e distante, blues alto, shorts curtos, blusas grandes demais para toda a nostalgia implícita, meias até os joelhos quando o frio incomoda, cabelos bagunçados, sutiã o mais longe possível e, não menos importante,  naturalidade. Naturalmente apaixonada por personagens de romances clichês que sempre levam uma flor à sua princesa sonsa (e devo dizer, não suporto e não vejo justiça em receber flores, mas receberia de um Noah Calhoun sem problemas!), naturalmente sem maquiagem e sem perfumes caros, naturalmente concentrada no cheirinho de café que toma conta da casa quando a manhã finalmente chega para acordá-la com aquela falta de noção causada pela noite anterior, onde provavelmente outra boa história foi escrita, e que será suprida pelo melhor autor existente.
Domingos foram feitos para nos saturarmos de nós, enquanto dançamos desordenadamente pelos cômodos fazendo com que os pensamentos de que uma semana nova começará sejam dissipados, é dia de não pensar e deixar o riso fluir, bobo, ingênuo, inocente, malicioso. É dia de entrelinhas, linhas, frases, estrofes, conclusões, dia de se perder por amores e se encontrar por paixões.
Porque é nos domingos que sentimos a vida, quem já passou por ela, quem fez parte, quem faz parte e quem chegou agora e já está causando aquele tumulto de tempos, enquanto abraçamos as almofadas, bagunçamos os lençóis, enxugamos as lágrimas dos dramas em travesseiros, afagamos os risos das comédias no colchão e bocejamos à cada dois minutos, porque o corpo ainda não se contentou com o pouco descanso que não compensou toda bebida consumida na história passada.
E quando a semana começa, estamos novos conosco e novos com os outros, porque autores renovam suas histórias.

domingo, 29 de novembro de 2015

Se apaixone sem querer

O melhor modo de se apaixonar, é aquele em que caímos em tentação após toda a experimentação ensaiada, após todos os clichês e todas as postulações sem intimidade necessária. Isto é, se apaixone por acaso, porque o acaso é lindo, cativante! Não busque estórias para roteirizar, sequer personagens de filmes onde tudo é programado e as ações jamais passam do limite do ocasional. Busque ser pega de surpresa, busque aprender sobre a pessoa na qual você pretende se encaixar, aprenda a se apegar em suas manias e seus modos, aprenda a conhecê-lo como se não soubesse o que o futuro trará a vocês.
Descubra tudo sobre ele, mas o "tudo" de dentro, como a música que tira suas palavras, o motivo de sempre ouvir determinado cantor em dias cinzas, quem faz com que ele se sinta seguro, suas histórias mais bizarras, seus amores mais intensos, o motivo de sempre ouvir música clássica quando pensa em sua mãe, e o mais importante, descubra se o que falta nos seus conceitos se preenchem nas definições dele. Se deixe ficar boba enquanto ele a olha prender os cabelos, se perca em seu olhar após beijos demorados e rascunhados de carinho, se deixe refazer o contorno de seus lábios antes de dormir, não se contenha nos sorrisos toda em vez que ele te abraça após uma piadinha de mal gosto, não tenha medo de atravessar noites e horas em meio a uma dança guiadas por suas mãos que acalentam a turbulência emocional, se deixe pensar nele durante o dia. Guarde brincadeiras para ele, planeje ser pega de surpresa, planeje surpreendê-lo, solte os suspiros enforcados, sorria com os olhos com suas saudações, forneça suas melhores caretas, solte suas mais espontâneas gargalhadas... E assuma logo que aquele sorriso caloroso enquanto ele cumprimenta os amigos, é lindo, por sinal.
Não se prive de se apaixonar, de se deixar levar por alguém que trouxe cor, assunto e acesso a seus dias. Não se prive de contar sobre suas ideologias de infância, sobre suas crises de asma quando se assustava ou sobre aquela amiga na qual você deposita toda sua fé. Permita-se amar e conhecer. Compartilhe seus filmes mais piegas, suas músicas mais melosas e suas tardes mais vazias, Faça com que a prosa da manhã se torne poesia  da noite, quando os lençóis forem testemunha de sua aceitação, que as meias se tornem o silêncio de quando andar na ponta dos pés ao acordar com ele e que seu sorriso, sutilmente, retrate amor.