quinta-feira, 19 de maio de 2016

Arte, de canto a canto.

Uma caneta, uma folha em branco, um cd com trilhas sonoras conceituais  e um contexto transfigurado. Ou um teclado, a página do youtube rodando no aleatório das mais tocadas e um mente perdida. Essa sou eu, junção do ontem, do outrora e no aguardo e um amanhã. Sempre fui o que escrevo, sempre fui o que crio.
Quando pequena, era os desenhos feitos para o escritório do meu pai, baseada nas personagens à la Salvador dá-lhe-corpo-de-palito, todas com sua essência, exatamente como uma criança gostaria de se enxergar dali um tempo. Cada uma com seus cabelos coloridos, vestes extravagantes e um contexto social criativo. Essa era minha primeira impressão de mundo, fui desenho, fui desenhista, fui criatividade infantil. Por fim, aprendi a escrever e fui papel, caneta "igual de gente grande", lápis e borracha que sumia rapidamente pela mania de limpá-la atritando na parede, e com tais materiais, fui cordel citado na frente da sala toda com a vergonha ruborizando o rosto até queimá-lo, fui poesia de dia das mães com estrutura dissertativa, fui alfabeto errado e matemática sem as devidas vírgulas e os devidos sinais. Até que aprendi sobre a beleza de ser um outro alguém, e fui interpretação, correria atrás de coxias para a cena seguinte, tropeção em linóleo descolado, figurino rasgado e monólogo esquecido quase cego pelos holofotes falhos do teatro municipal, fui Shakespeare e caveira de Hamlet, fui e não fui, sempre foi a questão. E virei dança, rodopio, força nos braços, alinhamento de quadril, de costas, equilíbrio entre mente e corpo, equalização total da música com a alma, fui bolhas nos pés, conforto nas expressões e facilidade em dançar nos mais inusitados lugares. Hoje, sou junção de tudo. Talvez ainda nova para dizer, mas sou outdoor rasgado pelas intempéries, sou remendo de sílabas no final da folha para não gastar linha, sou música desritmada e ritmo sem batida correta, já que o coração bate por tudo o que já foi. Coração é e não é. Sou eu, mente daquela criança que desenhava sentada na escada situada na sala de casa enquanto o pai assistia ao jornal. Sou aliteração da mocinha que recitava os poemas mais sem sentido do mundo e ficava feliz com o único aplauso da professora (Por ser a pobre coitada ainda acordada). Corpo da adolescente que se via estudando, dormindo, comendo... Vivendo na dança, sou os joelhos calejados dos tombos e os braços suaves de tanto movê-los à la Cisne Negro. Sou escrita provinda de coração partido, sou as mãos de quem tocava a guitarra desafinada até finalmente aprender a afiná-la direto dos ouvidos (O que até hoje se torna difícil). Sou uma junção da arte que fiz. Sou o que a arte fez.