quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"Dominguices"

Com o tempo e o acúmulo de responsabilidades, acabamos perdendo o contato com nossos dias mais suaves e com nossas habitualidades para com os mesmos, e em certo momento, somos pegos pela saudade.
Comigo não é diferente, sinto falta dos domingos. Dos chuvosos, cinzas, ensolarados, agitados, apaixonantes, absurdos, entendiantes, e sempre, autores. Porque domingos são autores de meus melhores e mais bem-sucedidos pensamentos, de meus melhores lapsos e de minhas mais espontâneas sensações. Domingo é dia de poesia calma e distante, blues alto, shorts curtos, blusas grandes demais para toda a nostalgia implícita, meias até os joelhos quando o frio incomoda, cabelos bagunçados, sutiã o mais longe possível e, não menos importante,  naturalidade. Naturalmente apaixonada por personagens de romances clichês que sempre levam uma flor à sua princesa sonsa (e devo dizer, não suporto e não vejo justiça em receber flores, mas receberia de um Noah Calhoun sem problemas!), naturalmente sem maquiagem e sem perfumes caros, naturalmente concentrada no cheirinho de café que toma conta da casa quando a manhã finalmente chega para acordá-la com aquela falta de noção causada pela noite anterior, onde provavelmente outra boa história foi escrita, e que será suprida pelo melhor autor existente.
Domingos foram feitos para nos saturarmos de nós, enquanto dançamos desordenadamente pelos cômodos fazendo com que os pensamentos de que uma semana nova começará sejam dissipados, é dia de não pensar e deixar o riso fluir, bobo, ingênuo, inocente, malicioso. É dia de entrelinhas, linhas, frases, estrofes, conclusões, dia de se perder por amores e se encontrar por paixões.
Porque é nos domingos que sentimos a vida, quem já passou por ela, quem fez parte, quem faz parte e quem chegou agora e já está causando aquele tumulto de tempos, enquanto abraçamos as almofadas, bagunçamos os lençóis, enxugamos as lágrimas dos dramas em travesseiros, afagamos os risos das comédias no colchão e bocejamos à cada dois minutos, porque o corpo ainda não se contentou com o pouco descanso que não compensou toda bebida consumida na história passada.
E quando a semana começa, estamos novos conosco e novos com os outros, porque autores renovam suas histórias.

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