terça-feira, 12 de abril de 2016

Caro passado...

(Sobre um alguém que decidiu não ouvir o mundo em volta -Isso inclui minha pessoa- e perdeu seu passado para o presente. Indico - You know I'm no good)


Aquele sorriso reluzente aberto na maior parte do tempo, lindo, daqueles que os olhos semicerram quando aberto, lindo, dos quais roubam um seu quando aparecem, lindo, daqueles que ficam em sua mente quando a tal distância aparece. Lindo, o qual não soube valorizar. E hoje vejo aquele sorriso lindo sendo causado por outra, por ela que apareceu sem aviso prévio e roubou o coração de quem costumava deixá-lo sempre guardado, muito bem escondido por sinal.
Eu o amei, eu o amo, como devia ter amado enquanto estava comigo, como devo amar pelo fato de estar feliz (mesmo não sendo comigo). Costumava chamá-lo de "Rei das Peculiaridades", zombava de seus gostos um tanto quanto diferentes, o que me fez demorar a perceber que era exatamente o que fazia dele, ser ele. Onde já se viu um alguém gostar tanto de groselha? Ou assistir treze vezes o mesmo filme procurando erros de gravação? Por que todas as manhãs precisava se alongar ao som de uma música nova? Por que ria tanto de piadas de pontinhos? Eram tantas perguntas diárias, cujas respostas me faziam revirar os olhos, já que a zona de conforto é uma senhora traíra e uma vez colocados lá, jamais saímos sem feridas ou rancor. Hoje, me aninho no sofá com um outro, sentindo falta de seus papos aleatórios sobre a música que ouviu nessa manhã, sinto falta do amor selvagem, entregue pelas correntes metafóricas de suas mãos muito bem vividas. E passo todas as noites imaginando como seria se eu tivesse percebido que a vida é leve, que ele era leve como nossas manhãs brincando com o travesseiro, como nossas piadas sobre a roupa íntima um do outro. O remorso bate e não me vejo sem o medo de descobrir que ela o faz feliz, e que bebe seus drinks malucos de groselha para agradá-lo e que assiste todas as vezes os filmes somente para se divertir com aquela expressão engraçada que fazia observando o cenário e os figurantes de cada cena.
Mais um sorriso se abre à minha frente, e pela centésima vez, não. Não é tão iluminado quanto o dele, tampouco tão "contagiante" e o que esqueci de citar (talvez porque só lembre durante a noite, enquanto sua imagem vagueia por meus pensamentos de um modo sutil) não possui as covinhas que tanto gostava. E mesmo com o outro, posso encontrar um alguém sem defeitos ou algo do tipo, e ainda não serei feliz, afinal, não é ele. Não é o moço que ri de piadas ruins, nem o moço que fala mal das minhas calcinhas mais confortáveis.
O tempo me ensinou a valorizar as pessoas, e talvez, um dia eu pare de buscar nos sorrisos, a essência dele e acabe reencontrando a minha.


Com amor,
Um alguém que aprendeu a amar o passado.

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